Corpo de Ronaldo Cunha Lima é sepultado em Campina Grande
Redação
Lágrimas,
aplausos e muita emoção. Estes foram alguns dos ingredientes da maior
despedida já vista para um político campinense. Neste domingo,
pontualmente às 16h00, ao contrário do que chegamos a prever, o corpo do
ex-governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, deixou a pirâmide do
Parque do Povo com destino ao cemitério do Monte Santo, onde também
estão enterrados os pais do poeta.
Nas ruas de Campina Grande, por
onde passou o carro do Corpo de Bombeiros que levou o caixão, uma
multidão aplaudia o político que era conhecido apenas como "poeta",
talento que resultou em dezenas de livros e elogios até de membros da
Academia Brasileira de Letras.
Cerca de 20 mil pessoas
acompanharam o sepultamento que contou com a presença de personalidades
políticas de toda Paraíba, a exemplo do governador Ricardo Coutinho.
O
ex-governador da Paraíba morreu às 9h35 deste sábado (7), aos 76 anos,
na casa da família. Ele lutava contra um câncer no pulmão desde 2011.
O
velório aconteceu no Palácio da Redenção, em João Pessoa, durante a
tarde do sábado, e no Parque do Povo, em Campina Grande no sábado à
noite e manhã de domingo. Amigos, políticos, familiares e cidadãos
comuns lamentaram a morte de Ronaldo e fizeram homenagens.
Na
manhã deste sábado (7), na capital, o senador Cássio Cunha Lima, afirmou
que nas últimas 48 horas, Ronaldo estava sendo sedado. "Ele agonizou
muito, mas durante todo esse período se mostrou conformado", disse. Um
dos médicos da família que acompanhavam Ronaldo confirmou que ele sofreu
uma insuficiência respiratória e morreu às 9h35.
Antes do
velório que ocorreu em João Pessoa, quem também falou foi Renato Cunha
Lima, um dos irmãos de Ronaldo. Ele disse que na quinta-feira (5)
conversou com o irmão e os dois relembraram momentos da infância. "Falei
que era para ele não se preocupar, porque a história dele era orgulho
para família e que o exemplo dele tinha ficado para toda história",
disse Renato.
Ronaldo José da Cunha Lima nasceu na cidade de
Guarabira, Brejo paraibano, em 18 de março de 1936. Formado em Ciências
Jurídicas, ele era casado com Maria da Glória Rodrigues da Cunha Lima e
tinha quatro filhos: Ronaldo Cunha Lima Filho, Cássio Cunha Lima, Glauce
Cunha Lima e Savigny Cunha Lima.
Carreira política
Sua
história política teve como palco principal a cidade de Campina Grande.
Aos 23 anos ingressou na vida pública quando foi eleito vereador. Foram
quase 50 anos de carreira política até a renúncia do mandato de
deputado federal em 2007, último cargo público que exerceu. Ronaldo
deixou o senador Cássio Cunha Lima, seu filho, como principal sucessor
na política.
Ronaldo já assumiu cargos no legislativo e no
executivo: foi deputado estadual por dois mandatos e em 1969 se elegeu
prefeito de Campina Grande, mas teve seu mandato cassado pela ditadura
militar. Em 1982 ele foi novamente eleito prefeito da cidade, pelo PMDB,
e assumiu o cargo em 1983. No ano de 1990 foi eleito governador da
Paraíba, cargo que deixou em 1994 para concorrer ao Senado Federal. Foi
senador e em 2002 foi eleito deputado federal. Com problemas de saúde
desde 1999, quando sofreu um acidente vascular cerebral, Ronaldo ainda
ficou alguns anos na vida pública e deixou o Câmara Federal em 2007,
quando exercia o segundo mandato.
A eleição de 1990 foi marcante
na trajetória política de Ronaldo. Ele foi derrotado no primeiro turno
por Wilson Braga, que já havia governado o estado, mas no segundo turno
virou o jogo e venceu com uma diferença superior a 100 mil votos.
O poeta
Conhecido
como "Poeta", Ronaldo Cunha Lima também fez carreira como escritor e
teve sua trajetória no cenário cultural imortalizada quando assumiu a
cadeira de número 14 na Academia Paraibana de Letras em 1994.
Uma
de suas principais paixões de Ronaldo na Literatura era a poesia do
também paraibano Augusto dos Anjos, tanto que em 1988 participou e
venceu o programa Sem Limite, da Rede Manchete, que fazia perguntas
sobre a vida e obra de Augusto dos Anjos. O presidente da APL lamenta o
fato de Ronaldo Cunha Lima ter enveredado pelo ramo da política. "É uma
pena que o fascínio da política tenha exercido grande poder sobre a
vocação do poeta", disse Gonzaga Rodrigues.
Na Borborema, o adeus a Ronaldo
No
percurso entre João Pessoa e Campina Grande, não faltou quem se
despedisse do poeta, humanista e ex-governador Ronaldo Cunha Lima. Os
municípios e povoados localizados entre as duas principais cidades
paraibanas pararam para prestigiar o cortejo do ex-governador. Palavras
de solidariedade, acenos e gestos de carinho foram distribuídos entre os
populares, que saíram de suas casas em respeito à partida do político
com ares de artista.
O corpo do ex-governador da Paraíba chegou a
Campina para se despedir do povo que o adotou e elegeu. O velório
aconteceu na região central daquela que foi a sua principal obra: o
Parque do Povo. A construção erguida no Governo Ronaldo se tornou, com o
passar dos anos, o Quartel General do Forró, e que rendeu à Campina
Grande o título de Maior São João do Mundo. Durante a noite do sábado
não faltaram homenagens e gestos de saudades entre a população que
sempre abraçou Ronaldo como um filho da terrinha. O estandarte que dava
graças ao rei do Baião, cedeu espaço ao rosto de Ronaldo, o poeta, o
político e o campinense de coração.
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